Como ‘Tubarão’, que faz 50 anos, mudou percepção do público sobre espécie 3l135r
Clássico de Steven Spielberg faz aniversário como marco da indústria, mas seu legado ajudou a transformar os peixes em vilões 606n2y

Em 1975, duas notas graves e um tubarão mecânico mudaram completamente o cinema americano. Naquele verão, o lançamento de Tubarão (1975) significou uma mudança de paradigma na indústria cinematográfica, que sofria com a queda de público nas salas de cinema. Para além disso, o filme do jovem Steven Spielberg, que mostra um tubarão branco aterrorizando uma cidade de praia, instilou nas pessoas comuns o pavor desses peixes carnívoros, transformando-os em verdadeiros párias dos oceanos.
Quando o compositor John Williams apresentou pela primeira vez sua ideia para o tema do filme a Spielberg, a reação inicial foi de incredulidade. Williams sentou-se ao piano e, com apenas dois dedos, tocou duas notas graves em um padrão repetitivo e crescente — para quem conhece música, um ostinato em mi e fá. “Eu comecei a rir”, relembrou o diretor em diversas entrevistas. “Achei que ele estava brincando”.
O conceito: a força do tema estava na simplicidade. As duas notas, segundo o compositor, representavam a natureza primitiva, instintiva e implacável do tubarão. Como em vários filmes de terror e suspense, a antecipação do monstro produz mais horror do que sua visão, e a música seguia essa receita com perfeição. A genialidade da composição estava na capacidade de criar uma tensão crescente e cada vez mais inável.

O restante é história. Ao completar 50 anos de seu lançamento, Tubarão segue sendo um marco para a indústria, que criou um modo novo de lançar filmes na época, e uma referência estética, transformando um fiapo de história em algo grandioso e aterrorizante. O título, que praticamente criou o conceito de blockbuster ou arrasa-quarteirão — os lançamentos amplos com forte propaganda por parte dos estúdios —, rendeu na época mais de 470 milhões de dólares, em valores atualizados.
No plano ambiental, no entanto, Tubarão não foi tão feliz, já que transformou uma espécie inteira em um vilão das águas, promovendo ataques a espécimes que não representavam o menor perigo às pessoas. Peter Benchley (1940–2006), autor americano do romance que inspirou o filme, expressou arrependimento no fim de sua vida por ter ajudado a criar esse retrato do peixe. “O tubarão em uma versão atualizada do filme não poderia ser o vilão”, disse ele. “Teria que ser escrito como a vítima; pois, em todo o mundo, os tubarões são muito mais oprimidos do que opressores.”